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“Céu de Agosto”, de Jasmin Tenucci, é um dos filmes brasileiros indicados ao Palma de Ouro

Nuvens negras percorrem o céu lentamente entre os prédios da cidade de São Paulo. Enquanto isso, a mente da diretora e roteirista Jasmin Tenucci se ilumina com novas ideias de forma acelerada. Em 18 de agosto de 2019, dia em que o município foi densamente poluído pela fumaça vinda de queimadas da região amazônica, ela escreveu o curta Céu de Agosto, indicado para a 74ª edição do Festival de Cannes, na França, um dos maiores festivais de cinema do mundo, que acontece de 6 a 17 de julho próximo.

“O filme já estava quase pronto, foi escrito com uma certa rapidez, como se algo tivesse que sair de mim. Eu diria que esse foi um filme cujo cerne, o coração, saiu de primeira e se manteve até o último corte”, relata Jasmin, ex-aluna de Audiovisual da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Céu de Agosto conta a história de uma mulher grávida, estrelada pela atriz Badu Morais, que frequenta uma igreja neopentecostal, cuida da avó doente e lida constantemente com a ansiedade em um ambiente poluído devido às queimadas.

Jasmin Tenucci, roteirista de séries de TV como As Five, Vida de Estagiário, Que Monstro Te Mordeu?, Oswaldo e Historietas Assombradas, estava escrevendo um longa-metragem baseado em pesquisas sobre religiosidade, especialmente a do neopentecostalismo brasileiro. Naquele dia de agosto de 2019, quando escureceu, o céu tinha um tom “apocalíptico”, diz. “Parecia que um sentimento presente no ar tinha se concretizado em imagem na minha frente. Essa foi a imagem e o sentimento que carreguei em mim ao longo de todo o processo do filme”, explica a diretora.

O curta foi filmado um mês antes da pandemia. Mesmo assim, Jasmin afirma que já tinha o sentimento de que era uma questão de tempo para que surgissem sérias consequências dos acontecimentos políticos e sociais no Brasil nos últimos anos. Ela conta que esse cenário afeta a parte física e mental das pessoas, como foi o caso de sua personagem principal, Lucia. 

Céu de Agosto pretende também despertar um olhar mais próximo e humano sobre a comunidade evangélica, de acordo com a diretora. “Foi sempre algo que me incomodou: o elitismo e o julgamento com que esse grupo é representado. Espero que o filme possa fazer parte de uma discussão mais interessante e mais generosa em relação a uma parcela tão grande da nossa sociedade e sua fé.”

A coprodução Brasil-Estados Unidos teve seu lançamento em janeiro deste ano na 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes, em Minas Gerais. No dia 15 de junho passado, foi anunciado pela organização do Festival de Cannes como um dos indicados ao prestigiado prêmio Palma de Ouro. Jasmim diz que, para ela, é uma honra ter o filme reconhecido por um festival tão importante como o de Cannes, além de conseguir alcançar um público maior.

A diretora relata que os filmes em curtas-metragens oferecem uma liberdade maior para testar linguagem, temas, formatos do que os longas-metragens. Mesmo assim, ela revela que sua próxima produção, se houver recurso, será um longa.

Outro filme brasileiro que concorre ao Palma de Ouro é Sideral, de Carlos Segundo, coprodução franco-brasileira gravada no Rio Grande do Norte, com equipe local. A presença brasileira em Cannes este ano ainda inclui o curta-metragem Cantareira, de Rodrigo Ribeyro, selecionado para a mostra Cinéfondation, cujo foco são estudantes e seus primeiros filmes, o documentário em longa-metragem O Marinheiro das Montanhas, de Karim Aïnouz, que terá uma exibição especial fora de competição, e o longa-metragem de ficção Medusa, de Anita Rocha da Silveira, selecionado para a Quinzena dos Realizadores do festival francês.

Os curtas brasileiros estão em competição com outras oito produções oriundas da Dinamarca, China, França, Hong Kong, Irã, Kosovo e Macedônia do Norte. Ao todo, esses trabalhos foram selecionados a partir de 3.739 submissões.

Neste ano, o Festival de Cannes incluirá eventos presenciais e on-line, depois de uma edição apenas simbólica em 2020, por conta dos efeitos da pandemia da covid-19.

 

Fonte: Jornal da USP

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