Movimentos

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"Parece que eu estou chorando, não é? Mas é só a poeira que irrita a vista". A frase, dita àFolhapela dona de casa Maria Isabel Pereira, 70, ilustra bem o problema por que passam os 6.000 moradores de Barra Longa (MG).

Localizada a 70 km de Mariana, a cidade teve o perímetro urbano invadido pela lama de rejeitos da Samarco. Quase seis meses depois dorompimento da barragem, que deixou 19 mortos, a poeira ainda não baixou em Barra Longa. Literalmente.

Além da poluição da água e destruição de casas e lavouras (o problema ambiental afetou o rio Doce até o Oceano Atlântico, no Espírito Santo), o município tem sofrido desde a tragédia com os rejeitos secos nas ruas e fundos das residências. Com a estiagem, o material vira poeira que circula com ventanias e passagem de veículos.

Pior: a previsão meteorológica é de piora, segundo o plano de recuperação ambiental contratado pela própria Samarco, enviado ao Ibama e obtido pelaFolhavia Lei de Acesso à Informação. O estudo aponta que "potenciais alterações na qualidade do ar" podem ter acontecido não apenas no local, mas ao longo do trecho entre Mariana e a Usina Hidrelétrica Risoleta Neves (Candonga) a 100 km de distância.

Isso acontece porque a lama que ficou depositada nas áreas mais distantes das calhas de água é carregada pelo vento, num processo chamado erosão eólica.

DENTRO DO PARÂMETRO

O plano foi entregue em fevereiro e previa que, caso a mineradora encontrasse evidências de que o ar tem sido afetado em áreas de ocupação humana, deveriam ser instalados aparelhos que medem a quantidade de partículas em suspensão.

Barra Longa foi o primeiro a receber um deles. Segundo a Samarco, até o momento as análises mostram que "a presença de material particulado está dentro dos parâmetros estabelecidos pela legislação ambiental". Outra medida tomada pela companhia é a contratação de carros-pipa, que têm lavado as ruas da cidade das 8h às 18h.

Como dona Maria Isabel, que falou com a reportagem na última quarta-feira (20) em meio a acessos de tosse, outros moradores locais sofrem com o mesmo problema. Alguns improvisam para tentar diminuir a entrada de poeira em casa, como a costureira Marly Aparecida Costa, 53, que cobriu a sacada do fundo com lençóis e toalhas. "Aqui, quanto mais a gente limpa, mais sujo fica."

Alguns também criticam que parte da lama retirada das ruas foi depositada no Parque de Exposições da cidade, um terreno que não havia sido soterrado. "O parque é colado na casa de algumas pessoas, e a poeira da lama seca pode causar doenças. Criamos até um slogan: 'A Samarco está levando a lama para onde não houve tragédia'", diz Sérgio Papagaio, integrante da comissão de moradores atingidos por essa situação.

A Secretaria de Saúde do município afirma que houve aumentos expressivos nos casos de pessoas com insuficiência respiratória, além de doenças de pele e diarreia.

Procurado, o Ibama informou que a fiscalização dos termos previstos no programa de qualidade do ar elaborado pela Samarco deve ser feita até o segundo semestre. "Apesar de não estar explícito no programa, devemos pedir relatórios periódicos da Samarco sobre a situação do ar [na região]", afirma Paulo Fontes, diretor de biodiversidade do Ibama.

Fonte: Folha de São Paulo

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