Na Mídia

Segundo a Constituição, salário mínimo deve ser suficiente para atender necessidades básicas de uma família

Desde o dia 1º de janeiro, o salário mínimo nacional é de R$ 998. No ano passado, ele era de R$ 954. Isso significa que ele teve um aumento de 4,61% de 2018 para 2019.

O que muitos brasileiros desconhecem é que, segundo a Constituição brasileira, o salário mínimo do país deveria ser capaz de atender às necessidades básicas do trabalhador e também da sua família, como moradia, alimentação, educação, saúde e lazer.

Constituição Federal de 1988 é o conjunto fundamental e supremo de leis do Brasil, servindo de parâmetro de validade a todas as demais espécies normativas.

De acordo com o Art. 7º, inciso IV da Constituição, todos os trabalhadores têm direito a:

 Salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim.

Segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), para suprir todas as necessidades acima e cumprir a lei no Brasil, o salário mínimo deveria ser, em julho deste ano, de R$ 4.143,55. Isso significa que, para cumprir a lei, o salário mínimo atual deveria ser mais de 4 vezes o que é atualmente (R$ 998).

Para fazer uma comparação, o valor estimado pelo DIEESE para o salário mínimo ainda é mais baixo do que o auxílio-moradia (R$ 4.377,73) pago a parlamentares, juízes, desembargadores, ministros e outros cargos do governo, que recebem o benefício segundo alguns critérios.

Fonte: Observatório do Terceiro Setor

Automatização de setores como call centers afeta empregos.

O paulista Robinson de Jesus Martins, de 40 anos, trabalhou, por sete anos, num call center que fazia o atendimento de uma empresa aérea e de um grande banco. Ele conta que cada “ilha de atendimento” tinha mais de 400 pessoas. Martins chegou ao cargo de coordenador, mas acabou perdendo o emprego após todos os processos da empresa terem sido automatizados.

 Um estudo de pesquisadores da Universidade Harvard, nos EUA, mostra que muitos outros brasileiros vão correr o risco de perder o emprego para a tecnologia, o que desafia o país a preparar melhor seus trabalhadores para desenvolver habilidades que as máquinas não têm.

A pesquisa estima que 44,5 milhões de profissionais dos setores formal e informal, ou 53% da força de trabalho do país, estão em ocupações com 70% de chance ou mais de serem automatizadas nas próximas décadas com o uso de técnicas já existentes ou tecnologias em desenvolvimento com grande probabilidade de serem viabilizadas, como é o caso de carros autônomos. Entre as categorias com maior risco de automação estão motoristas (98% de chance), auxiliares de escritório (97%), vendedores de lojas (95%) e caixas (90%). O estudo analisou os efeitos em 373 ocupações no país.

Método aplicado ao Brasil

Com o título de “O Brasil Precisa se Preparar para a Era da Inteligência Artificial?”, o trabalho foi realizado pelo economista brasileiro João Moraes Abreu e pela cientista em computação russa Katya Klinova para uma dissertação de mestrado no curso de Administração Pública e Desenvolvimento Internacional da Harvard Kennedy School of Government. Uma das orientadoras foi Carmen Reinhart, única mulher no atual ranking dos 12 economistas mais citados em trabalhos acadêmicos nos EUA.

A base da pesquisa sobre o Brasil foi um trabalho anterior feito por dois pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, em que especialistas em inteligência artificial identificaram ocupações nos EUA para as quais já existe tecnologia para executá-las de forma automática e também as que provavelmente serão “automatizáveis”. A partir desse trabalho, os pesquisadores de Harvard buscaram as atividades equivalentes no mercado brasileiro. Além de apontar as profissões mais ameaçadas pela tecnologia, o estudo sobre o Brasil concluiu que homens correm mais riscos que mulheres e que os trabalhadores que ganham menos estão nas posições mais vulneráveis.

 — Embora faça algum sentido que ocupações com salários menores sejam mais fáceis de automatizar, isso não é sempre verdade. Avanços recentes em telemedicina sugerem que atividades que até há pouco exigiam elevado conhecimento médico podem ser executadas por máquinas. O dado sobre o Brasil nos surpreendeu — diz Klinova.

Robinson Martins perdeu o emprego no setor de call center onde trabalhava depois que tudo foi automatizado. Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

Os pesquisadores ressaltam que, ainda que as previsões sobre o desenvolvimento de tecnologias de automação se mostrem verdadeiras, isso não significa que todas serão adotadas. Vai depender da viabilidade econômica do investimento parar trocar humanos por máquinas. Mas, principalmente na eventualidade de profissões que empregam pessoas de baixa renda serem mais afetadas, o provável efeito do avanço de tecnologias como a inteligência artificial será o aumento da desigualdade social. Isso exigirá uma resposta de políticas públicas, como mais investimento em educação.

— Para desenvolver habilidades que as máquinas não podem desempenhar é preciso ter acesso a um bom sistema educacional e a ambientes familiares estáveis. Quem não tiver isso tem probabilidade alta de ficar para trás — alerta Abreu.

Menos agência, mais app

De certa forma, o futuro já chegou em muitos setores. No de telemarketing, que já foi um grande empregador, é crescente o uso de assistentes virtuais de voz e softwares que permitem interações entre clientes e máquinas por mensagens de texto. No bancário, a automação fecha cada vez mais vagas. Segundo dados do Caged, cadastro do Ministério do Trabalho que contabiliza admissões e demissões, foram fechadas 60 mil vagas no setor nos últimos sete anos. Eram 513 mil empregados em instituições financeiras em 2012 e hoje são cerca de 450 mil.

— Bancos e teles são responsáveis por mais de 40% das contratações de empresas de telemarketing. E são eles que mais estão automatizando o atendimento — diz Marco Aurélio Coelho, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Telemarketing (Sintratel).

Para o economista Gustavo Cavarzan, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que estuda o impacto das tecnologias no mercado de trabalho das instituições financeiras, trata-se de uma queda considerável num prazo curto. Ele observa que, no mesmo período, as operações bancárias digitais avançaram:

— Em 2008, 18% do total de transações bancárias eram feitos na agência. Hoje, são apenas 5%. O celular, que respondia por 1% das operações em 2012, já concentrava 40% no ano passado.

Por outro lado, ressalta Cavarzan, o avanço da tecnologia cria novas posições em setores em transformação como o bancário, ainda que não na mesma proporção da redução dos postos de trabalho tradicionais. Uma dessas novas funções é a de cientista de dados, um profissional capaz de administrar o enorme volume de informações que hoje a tecnologia permite acumular numa atividade como a bancária.

— Um grande banco tinha 33 cientistas de dados em 2017. Hoje tem 250 — diz Cavarzan.

Tecnologia também cria oportunidades

Se a automação está fechando vagas em diversos setores, novas oportunidades de emprego trazidas pelas inovações vão se abrir, inclusive na indústria. Pelo menos 30 novas profissões em oito áreas devem surgir nos próximos cinco ou dez anos, com o avanço da chamada Indústria 4.0, como tem sido chamada a revolução provocada pela tecnologia nos sistemas produtivos. A estimativa é de um estudo do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).

No setor automotivo, por exemplo, a previsão é de mais vagas para mecânicos de veículos híbridos ou técnicos em informática veicular. Na construção civil, gestores de logística de canteiro de obras ou técnicos de automação predial terão mais chances de emprego. Também devem surgir profissionais como designer de tecidos avançados, no ramo têxtil, e, no ramo de tecnologia, mais espaço para especialistas em big data, a gestão de dados. Outras profissões que devem se transformar estão em setores como petróleo e gás, química e petroquímica e máquinas e ferramentas.

Na Gupy, empresa de recrutamento baseada em inteligência artificial de São Paulo, a tecnologia, em vez de demitir, tem gerado empregos. Criada em 2015, a empresa tinha 30 funcionários no início de 2018. Hoje, são 100, metade deles da área de tecnologia.

Usando algoritmos, que são programas de computação, os cerca de 1 milhão de currículos na base de dados da empresa podem ser ranqueados em 33 minutos. Se o mesmo processo tivesse que ser feito manualmente por uma pessoa, seriam necessárias 21 mil horas de trabalho. Com a tecnologia, a empresa alcança alta produtividade, um dos principais problemas da economia brasileira, sem dispensar especialistas de carne e osso.

— Nosso trabalho não substituiu totalmente a mão humana. Fazemos uma pré-seleção que depois precisa ser analisada por pessoas que trabalham no setor de recursos humanos — diz Guilherme Dias, um dos sócios da Gupy.

A Indústria 4.0 integra o mundo físico e virtual por meio de tecnologias digitais. O grande desafio no Brasil, concordam os estudiosos do assunto, será qualificar e requalificar as pessoas para essas novas funções, o que inclui a melhoria do ensino e programas de atualização para profissionais que já saíram da escola ou da universidade.

— A tecnologia vai destruir muitos empregos, mas também vai gerar novos. Um levantamento do Fórum Econômico Mundial mostrou que serão 133 milhões novos empregos no mundo nos próximos cinco anos. Mas será preciso um esforço para preparar as pessoas para preencher essas vagas, incluindo o Brasil — disse Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai.

Fonte: O Globo

Por ocasião do Dia Internacional da Juventude, 12 de agosto, relatores da ONU alertaram que jovens LGBTI correm riscos mais altos de viver em situação de rua devido à rejeição familiar e à discriminação na escola. Uma vez desabrigadas, essas pessoas podem ter outros direitos humanos violados, além de ter chances maiores de desenvolver problemas de saúde mental.

“Como resultado da intolerância religiosa e cultural, que pode incluir violência sexual e de outras formas, as jovens lésbicas, os jovens gays, bissexuais, trans e de gênero diverso em todo o mundo enfrentam exclusão socioeconômica”, ressaltaram Victor Madrigal-Borloz e Leilani Farha.

Os dois especialistas explicaram que essa exclusão pode ser vivida pela juventude LGBTI nos lares e nas comunidades onde moram. “A reprovação familiar e os castigos podem forçá-los a sair de casa — o que os torna mais vulneráveis a ainda mais violência e discriminação, um fator que se agrava com a idade e com a dependência econômica e a confiança em redes familiares e comunitárias.”

Segundo os relatores, “isso explica por que os jovens LGBT estão sobrerrepresentados em populações que sofrem com situação de rua e por que, uma vez sem moradia, eles sofrem discriminações adicionais”.

Os especialistas acrescentaram que a falta de moradia pode ser a consequência de outros episódios de discriminação, como o preconceito em ambientes de ensino.

“Na escola, muitos jovens LGBT sofrem bullying, o que resulta em taxas de abandono que são mais altas do que a média e tem consequências severas, de longo prazo, para o seu projeto de vida. Os jovens LGBT têm menos probabilidade de ter níveis educacionais e habilidades para encontrar emprego e alcançar segurança econômica, o que, por outro lado, afeta a sua oportunidade de encontrar moradia adequada”, ressaltaram Lelani e Madrigal-Borloz.

De acordo com os relatores, um estudo recente revela que quase dois terços dos jovens LGBT em situação de rua já tiveram problemas de saúde mental. Estudos sugerem que essa população tem mais chances de relatar casos de depressão, transtorno bipolar e tentativas de suicídio.

“Eles (os jovens LGBT) também têm menos probabilidade de ter acesso a cuidados de saúde e estão extremamente vulneráveis ao uso abusivo de álcool e drogas”, afirmaram os especialistas.

A dupla lembrou que, de acordo com o direito internacional de direitos humanos, os países têm a obrigação imediata de assegurar o direito a habitação e combater, de forma efetiva, a falta de moradia.

Conforme previsto pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS), governos também precisam identificar e enfrentar as causas estruturais da situação de rua, a fim de eliminar essa violação de direitos até 2030.

“Dentro desse contexto, as medidas adotadas pelos governos nacionais e locais precisam impedir que os jovens LGBT se tornem moradores de rua, garantir que as políticas e programas de habitação sejam inclusivos para as pessoas LGBT e abordar as necessidades dos jovens LGBT”, completaram os relatores.

Victor Madrigal-Borloz é especialista independente da ONU sobre proteção contra a violência e a discriminação baseada em orientação sexual e identidade de gênero.

Leilani Farha é relatora especial da ONU sobre o direito a moradia.

Fonte: ONU Brasil

Conhecida por descrever as dificuldades enfrentadas pela comunidade negra nos EUA, Morrison ganhou o Nobel de Literatura em 1993 e, após uma carreira de décadas, deixa um legado com obras que se destacam pela sua humanidade, como Amada, Canção de Salomão e Deus Ajude essa Criança.

A escritora americana Toni Morrison, primeira negra a ganhar o Nobel de Literatura, morreu na segunda-feira (5), aos 88 anos, em Nova York. A morte foi comunicada nesta terça-feira pela editora que a representava e por sua família.

“Sua narrativa e sua hipnótica prosa deixaram uma marca indelével na nossa cultura. Seus romances dominam e demandam a nossa atenção”, escreveu Sonny Mehta, diretor da editora Alfred A. Knopf, no Twitter.

Em comunicado, a família de Toni Morrison informou que a escritora “morreu após uma breve doença”. “Apesar de sua morte representar uma tremenda perda, estamos gratos por ela ter tido uma vida longa e bem vivida”, afirma a nota, segundo a agência de notícias AFP.

Conhecida por descrever as dificuldades enfrentadas pela comunidade negra nos EUA, Morrison ganhou o Nobel de Literatura em 1993 e, após uma carreira de décadas, deixa um legado com obras que se destacam pela sua humanidade, como Amada, Canção de Salomão e Deus Ajude essa Criança.

O romance mais famoso de Toni Morrison, Amada, foi inspirado em uma história verdadeira e angustiante que a escritora primeiramente achou “inacessível à arte”. O livro lhe rendeu o Pulitzer de ficção em 1988.

Seus outros trabalhos incluíram Playing in the Dark, uma coleção de ensaios; Dreaming Emmett, uma peça sobre o adolescente assassinado Emmett Till; e vários livros infantis de coautoria com Slade Morrison, seu filho que morreu de câncer em 2010.

Toni Morrison também escreveu sobre os horrores da escravidão e do racismo, questionando a noção simplista do bem e do mal.

Nascida em 1931 em Lorain, no estado de Ohio, Morrison formou-se em letras e lecionou em várias universidades, tendo trabalhado também como editora na Random House, num posto que lhe permitiu divulgar outros nomes da literatura afro-americana.

Sua estreia como autora ocorreu pouco antes de completar 40 anos, em 1970, com o romance O Olho mais Azul, baseado numa história de infância sobre uma criança negra que desejava ter olhos azuis e que foi assediada pelo pai.

Em entrevista ao jornal The New York Times, em 1979, Toni Morrison recordou que se sentia sozinha com os dois filhos, em Nova York, quando começou a escrever. “Escrever era uma coisa que eu fazia à noite, depois de as crianças irem dormir”, contou.

Após O Olho mais Azul, seguiram-se Sula (1973), Canção de Salomão (1977), Tar Baby(1981) e Amada (1987), todos eles dando voz a personagens negras e evocando questões relacionadas ao racismo, segregação e minorias.

Em 1993, quando se tornou a primeira escritora negra a ganhar o Nobel de Literatura, a Academia Sueca destacou a presença da tradição afro-americana nas obras da autora, por influência dos livros que lia e das histórias que o pai lhe contava, e da transposição desse patrimônio cultural para romances sobre redenção e integridade.

No Twitter nesta terça-feira, o Nobel escreveu: “Toni Morrison, ganhadora de um prêmio Nobel, morreu aos 88 anos. Ela foi uma das forças literárias mais poderosas e influentes do nosso tempo.”

A escritora foi casada com o arquiteto jamaicano Harold Morrison, com quem teve dois filhos. O casal se divorciou em 1964. A escritora deixa o filho Harold Ford Morrison e três netos.

Fonte: Agência Brasil

A endêmica violência que acomete o Brasil faz vítimas. Sobretudo, mulheres e LGBT+. Ao menos é o que mostra o Mapa da Violência de Gênero, realizado pela Gênero e Número e apoiado pela Alianza Lationamericana para la Tecnología Cívica (ALTEC), que destaca: em média, na última década foram assassinadas por dia no Brasil 12 mulheres – entre elas, as mulheres negras são as maiores vítimas.

Entre os diferentes tipos de violência registradas na pesquisa, as mulheres foram vítimas de 90% dos 73 estupros cometidos diariamente em 2017.

Em tempos onde pesquisas e estudos perdem espaço para a difusão de informações com base em achismos sem qualquer embasamento, o Mapa da Violência de Gênero, em formato interativo inédito, disponibiliza as duas maiores bases oficiais de dados sobre violência do país – a do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/DATASUS) e a do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) – abrindo múltiplas possibilidades de pesquisa a partir de um grande volume de dados.

Apuração dos fatos

Resultado de um trabalho de pesquisa de um ano, com metodologia desenhada pela especialista em violência de gênero Wânia Pasinato e executado por uma equipe multidisciplinar da GN, a ferramenta se valeu de textos e análises de cenários dos 27 Estados brasileiros.

O material, até então manuseados principalmente por pesquisadores ou jornalistas dispostos a percorrer o caminho de solicitação via Lei de Acesso à Informação (LAI), expõe dados estatísticos oficiais mais importantes e abrangentes sobre violência distribuídos por sexo (feminino e masculino). Também está disponível a qualquer pessoa interessada sobre o tema.

Como funcionam as leis para minorias ?

Na seção Leis do estudo é possível conhecer a produção legislativa estadual sobre o tema para além daquelas que significaram importantes marcos nacionais, como a Lei Maria da Penha (2006) e a Lei do Feminicídio (2002).

No levantamento estão destacados os mecanismos legais estaduais com efetivo potencial de impacto na proteção e acolhimento das vítimas e punição dos agressores.

As fragilidades na coleta, produção e divulgação desses dados no Brasil guiaram uma outra frente de trabalho do Mapa, focada em incidência.

Coleta de dados contra a barbárie

Com a proposta de fortalecer a sistematização e padronização dos dados de violência contra mulheres, um grupo de formado pela Gênero e Número e as organizações convidadas ONU Mulheres e Artigo 19 abriu diálogo com o Conselho Nacional do Ministério Público para discutir as debilidades do Cadastro Nacional de Violência Familiar e Doméstica contra a Mulher, um dos principais instrumentos para a coleta desse tipo de dado.

Os detalhes dessa frente de trabalho do Mapa podem ser conhecidos na página Incidência. O Mapa nasce sobretudo com esse propósito: denunciar e exigir a produção de dados cada vez mais qualificados, que apoiem o avanço de políticas de prevenção e enfrentamento à violência. Nesse percurso, o acesso à informação e a reflexão crítica

são ferramentas centrais no combate à barbárie.

Fonte: Geledés

Mais um passo foi dado na conquista de mais direitos para as mulheres. Na última quarta-feira (10), o governador de Nova York, Andrew Cuomo, decretou uma lei que proíbe que homens e mulheres ganhem salários diferentes quando exercerem a mesma função dentro das empresas.

Segundo o G1, o grande momento da divulgação aconteceu enquanto a seleção dos Estados Unidos comemorava a conquista do quarto título na Copa do Mundo Feminina 2019. Isso porque o time estadunidense usou todo o holofote dentro e fora de campo para defender condições melhores às mulheres – inclusive, a igualdade salarial para homens e mulheres no futebol.

Ainda na festa novaiorquina que aconteceu para a Seleção estadunidense, a capitã do time (que ficou conhecida por criticar abertamente Donald Trump), Megan Rapinoe, mostrou todo o posicionamento da luta feminina com um discurso brilhante. Como mostra a tradução na íntegra feita pela ESPN, ela começou a fala enfatizando a importância de ter diferentes tipos de mulheres dentro do time.

“Primeiro de tudo, minhas companheiras de equipe. Vamos aplaudir, por favor. Todo mundo. Esse grupo é tão resiliente, tão duro, é engraçado, e é tão foda. Nada pode abalar esse grupo, estamos de boa, estamos tomando um cházinho. Temos comemorações, temos cabelo roxo, cabelo rosa. Temos tatuagens, dreadlocks. Meninas brancas, meninas negras e tudo que há no meio! Meninas hétero, meninas gays”, especificou Megan.

Em seguida, a jogadora agradeceu a algumas figuras públicas que acompanharam a disputa e, por fim, deixou uma mensagem positiva sobre como fazer um mundo melhor é missão de todos.

“Acho que vou finalizar com o seguinte. Essa é a minha mensagem para todos vocês. Nós temos que ser melhores. Temos que amar mais e odiar menos. Ouvir mais e falar menos. Temos que saber que isso é responsabilidade de todo mundo. Todo mundo mesmo, todo mundo que está aqui e que não está aqui, ou que não quer estar aqui. Que concorda e que não concorda. A responsabilidade de fazer esse mundo um lugar melhor é nossa. Acho que esse time faz um trabalho incrível em levar isso nos nossos ombros. Nós entendemos que na posição que estamos, e a plataforma que temos… sim, nós jogamos esportes, nós jogamos futebol, somos atletas mulheres… mas somos muito mais que isso”.

Fonte: Geledés

Escritora e crítica fez uma das mesas mais incisivas da Festa Literária Internacional de Paraty ao denunciar visões racistas de Euclides da Cunha e questionar, com humor, o porquê de ter sido convidada

Numa das mesas mais aplaudidas da programação principal da 17.ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) até aqui, a escritora Marilene Felintoemocionou a plateia ao comentar sua trajetória particular e dizer que levou décadas para superar o “racismo internalizado na mentalidade do brasileiro”.

“Os ancestrais de minha mãe são possivelmente sobreviventes da degola e da tortura a que foi submetida pelo exército de Euclides da Cunha a gente preta do arraial de Canudos, os milhares de escravos recém-libertos que zanzavam pelo sertão em busca de comida e alguma crença para suportar aquelas condições desumanas de vida”, leu, de um texto escrito previamente à mesa, num dos momentos mais emocionantes da Flip até aqui.

Ela reconhece que o escritor fez sua mea-culpa anos depois do fim da Guerra, em Os Sertões, mas diz que o fato pouco lhe importa. “Levei anos para superar o estrago do racismo internalizado na mentalidade do brasileiro, tão bem codificado no linguajar culto de Euclides da Cunha e dos sociólogos do seu tempo”, disse.

“Minha presença aqui e esta fala, que vocês infelizmente pagaram para ouvir, pode destoar assim do que se espera. Mas é que eu não aceito a norma quando ela significa a manutenção, a naturalização da perversidade, da exclusão, da desigualdade social. Levei décadas para superar o complexo de inferioridade resultado da discriminação de raça e de classe. Durante tempos, acreditei na minha própria feiura. ‘Sou feia’, eu me dizia quando menina, me olhando no espelho”, leu.

Dona de uma trajetória única no cenário das letras brasileiras, Marilene lançou seu primeiro romance, As Mulheres de Tijucopapo (republicado em nova edição para a Flip, em edição independente, assim como outros de seus livros), em 1982, e depois estabeleceu uma voz ativa na imprensa brasileira com uma coluna de comentários políticos na Folha de S. Paulo, a convite do jornalista Otavio Frias Filho, com quem depois rompeu. Ela deixou a experiência na imprensa de lado, disse, “por não aceitar o estado de coisas como ele é”.

“Não aceitei a censura, a liberdade de expressão que só cabe aos donos da mídia”, disse. Em outro momento, ela afirmou que a mídia brasileira deve uma reparação histórica aos brasileiros.

Rompida com a imprensa, Marilene desenvolveu ainda um trabalho educativo com jovens da periferia de São Paulo, estudando economia, sociologia e filosofia com alunos do ensino médio, e trabalhou para o PT em algumas ocasiões. A escritora vive há anos no interior de São Paulo e nunca parou de escrever, embora estivesse há tempos sem publicar.

Sobre As Mulheres de Tijucopapo, que chega agora à sua quarta edição, a escritora diz em seu prefácio: “É um romance de juventude. Por isso mesmo cheio dos defeitos, do ímpeto equivocado, dos impulsos irascíveis daquele período da vida (para não dizer da minha já tresloucada personalidade). Mas é nele também que reconheço a força inconfundível, o vigor imbatível da fase única em que uma pessoa se move impulsionada por uma fé cega no amanhã”.

Os outros títulos lançados agora em edição da autora são: Fama e Infâmia: Uma Crítica ao Jornalismo Brasileiro, Sinfonia de Contos de Infância: Para Crianças e Adultos, Contos Reunidos e Autobiografia de uma Escrita de Ficção.

Marilene disse ainda se sentir fora de moda e malcomportada. “No que se refere ao universo da cultura, das artes perpetua-se a mesma desigualdade da estrutura social brasileira em todos os âmbitos: trata-se da mesma hierarquia social branca e rica, o cenário é composto pelos mesmos sobrenomes de sempre”, disse.

Ao reconhecer que lhe foi muito custoso aceitar o convite para participar da Flip, dedicou sua fala “aos escritores do interior do Brasil”, “aos escritores anônimos, das cidades e das periferias das grandes cidades, entre estes últimos, jovens e moças negros, vítimas do extermínio cotidiano que ali se processa”.

Ela disse entender que os palcos e espetáculos de literatura, como aquele em que estava presente, não tem nada em comum com a atividade silenciosa da escrita e da leitura. “Mas o que, afinal, eu vim fazer aqui, então?”, questionou. “Acontece que certo tipo de escritor como eu é bem louco e faz pouco sentido.”

Escrever literatura, para ela, só serve para o próprio autor do texto elaborar e investigar questões que ele mesmo considera insuportável na realidade. “Para torná-la suportável, então, a pessoa escreve sobre ela, inventa outra realidade. Mas quem precisa disso?” Ela reconhece, a seguir, porém, que a literatura pode ser um “empreendimento de saúde”, emprestando palavras de Gilles Deleuze.

Entre outras homenagens na sua fala de abertura, mencionou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (“o melhor que já houve por aqui, a despeito dos erros que tenha cometido”), Dilma Rousseff (“que abriu com suas saias de guerrilheira um espaço de esperança para nós, mulheres”) e o jornalista Glenn Greenwald, que na sexta-feira, 12, arrastou uma verdadeira multidão em Paraty. A curadora da Flip, Fernanda Diamant, Marielle Franco e a jornalista Suely Duval Gonçalves, também foram citadas por Marilene.

No rápido papo que se seguiu à leitura do texto, o mediador Fernando Barros e Silva leu outro texto de Marilene, inédito, em que ela conta ter sido estuprada por uma figura relevante do mercado editorial brasileiro nos anos 1980. “Se fosse jovem, me juntaria ao movimento Me Too e diria seu nome”, escreveu. “Mas confio a missão às novas gerações.”

Questionada pela plateia sobre sua opinião sobre os novos movimentos feministas, disse: “Sempre fui feminista. Tem que ser, alguém tem dúvida? Acho lindo essa coisa de feminismo negro. Na minha época era diferente, mas você tem um posicionamento do movimento negro jovem brasileiro que é admirável. Isso tem que ser dito, apoiado e admirado”.

Ao explicar que teve aprender o “paulistês” quando chegou em São Paulo (sua família é de origem nordestina), comentou que o choque cultural da cidade grande foi “fortíssimo”, questão que a fez escrever seu primeiro romance. Com bom humor, disse que poderia parecer que ela estava gostando de estar ali, no palco da Flip – “mas não estou”, riu.

No fim do debate, ofereceu sua visão sobre a atual situação política brasileira: “É uma tragédia, um retrocesso social gravíssimo para todas as camadas sociais. Jovens, velhos. Temos que apostar na Vaza Jato, não vejo outra solução no momento”, disse, referindo-se ao vazamento de mensagens de membros da Operação Lava Jato e do então juiz Sérgio Moro.

Fonte: Geledes

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