Estrago patrimonial no prédio do Congresso Nacional, invadido na tarde deste domingo (8), por manifestantes bolsonaristas. É possível identificar objetos quebrados, cadeiras jogadas e vidros estilhaçados, além de extintores e mangueiras contra incêndio espalhadas pelo local. Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

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O fato de significativa quantidade de pessoas, muitas das quais ocupando cargos públicos, órgãos de representação política, entre outros, que por meio das redes sociais e também a grande imprensa, declararam apoio aos golpistas acampados em porta de quartéis, a favor de intervenção militar, e ainda sobre a invasão e destruição dos prédios-sedes dos poderes da República, em Brasília, pelo terrorismo bolsonarista, leva-me a presumir que Bolsonaro, com seu extremismo político doentio, fascista, em 4 anos contaminou não apenas a máquina do Estado, mas ampla parcela da sociedade brasileira.

 

Algo a meu ver a ser doravante estudado pela sociologia e, principalmente, a psiquiatria, além de outros ramos da ciência, sobre como isso foi possível.

 

Entretanto, é preciso observar e se perguntar se essa massa de perfil nazifascista já não estava aí inserida na sociedade e há muito tempo convivendo conosco, porém sem querer mostrar esse seu lado violento, à espera de alguém como Bolsonaro, com sua retórica troglodita, visando liderá-la e no qual pudesse espelhar-se e colocar para fora, agora sem temor, toda a sua bestialidade tão característica dos fascistas.

 

Pois não se trata pura e simplesmente em olhar para o infeliz “pobre de direita”, de baixa formação educacional e frustrado nas suas pretensões em ter sucesso numa sociedade estratificada e secularmente desigual como a brasileira, mas pessoas oriundas das classes rica e médias (empresários, médicos, advogados, professores, engenheiros, funcionários públicos, artistas …) com formação acadêmica e, em muitos casos, ocupando posição de destaque na sociedade.

 

Gente que não só apoiou, como até participou do vandalismo do último domingo, 8/1, em Brasília, e de outros atos violentos, desconsiderando e virando as costas para a ordem democrática, uma conquista da sociedade organizada, na qual a alternância de poder, via eleições periódicas, é tão salutar, bem como níveis de civilidade nos quais se inclui o respeito ao outro, ao que politicamente pensa diferente… Tão vital, acredito, para o bom funcionamento de uma sociedade culturalmente diversificada como a brasileira.

 

Algo a ser refletido sobre como em tão pouco tempo chegamos a isso, ou se essas condições bestiais, retrógradas, por parte de parcela considerável da população, há muito já estavam dadas e nós não nos esforçamos em percebê-las.

 

José Raimundo de Oliveira é historiador, educador e ativista social.

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